- Abra o canal.

- Não consigo transmitir; só, receber; na tela do inimigo.

- Exiba-a. - e desponta a face de Talia, sozinha em seu
camarote na France, mantido arrumado por Douod tal qual ela
o deixara, ao ir viver com os Cromat Geócton. Talia expressa-se
como se soubesse estar sendo vista e eriada por Clausar:

- Desculpe-me, Clausar! Perdoe! Não fui eu quem disse aqueles
horrores de Você! Sempre me tratou como filha! Sei de seu
respeito por todos os seres, de qualquer idade: nunca seria capaz
de praticar um ato assim!... E eu gostei tanto! - ao ouvir-se
repetindo a frase pérfida, a menina cai em pranto. Põe as mãos
e roga: - Ai, Deus! Ai de mim!! Começou de novo!!! Deus de
meu coração! Cure-me!! Fale comigo!!! Pra Você,
eu sou uma pulguinha, e...

- E até as pulguinhas eu sou! Não chore, Talia: ouço-a e sempre
a ouvi. Não a olho como Você olha um gato ou um cão; querido,
mas dispensável. Vejo-a como veria a si mesma, se Você de hoje
falasse com Você de ontem, a criança. Eu sou Você! Quando falo
não é como pai. É comigo! Comigo ontem; comigo
menina-moça. Levante, ande... e não chore
mais. Está curada.

Tanto no camarote de Talia quanto na tela da Laranja, a resposta
foi da Voz. A VOZ! Aquela eriada por Clausar na arieira, quando
o Kyenk surdiu no círculo de fráteres! E a Voz dá-se a conhecer a
todos, posto no íntimo soubessem. Conquanto exprima-se
corriqueiramente (quiçá por isso mesmo), ninguém duvida:
é a Voz de Deus, a Voz de Géo! Pela primeira vez assume a
pessoalidade e não é mais a Voz sem dono! Não o faz com
pompa e alarde, num vozeirão, nem se reserva aos grandes
místicos: prefere ser simples qual criança, fazendo-se as
pulguinhas, e dirige-se direto à menina, expondo-se aos três
da Laranja para também os confortar; dando-lhes uma
colher de chá de luz, adoçada com autêntico milagre.

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