Das três largas portas voltadas para a beira do platô e o vale,
Sérias abre a do meio e entra o espaço de doze por doze trezêmbilhos
do compartimento principal de sua esplêndida mansão. A casa foi
projetada por ele e Clausar com superficioso pavimento, resguardado
por vasta e aconchegante cobertura de telhas ocráceas, sobre as
paredes de tijolos envernizados. Sob o imenso teto e suas grossas
estruturas de madeira, a ausência de forro amplia, ventila e estiliza
o recinto. Deslizando... sobre as lajotas enceradas, Sérias segue
devagar, dobra à direita e ingressa na saleta de quatro por
quatro trezêmbilhos, aberta sem porta no fundo do salão.
Reverentemente, o compositor tira do estojo
acolchoado a Etérila de Soládio.

Em nenhum estato da viagem de KSE Sérias notou qualquer
mudança na percepção irial, sequer a conformação das imagens
em textura de abáculos, típica de mosaicos e torpógenos.
Compensativo, o mundo transformou-se em puríssima vibração
acústica, exterior e interior: o eterilista experimenta
a própria natureza do Som.

Os dedos deslizam e ferem as cordas (de aço, nesta época).
A mais triste, grave e melancólica das melodias eleva-se no ar
e emana para a lúmia constelada. Pouco a pouco, o clarão aurirróseo
surge no horizonte, do outro lado do vale; e Rá principia a nascer.
O luminar exibe o topo do disco de árion, trepidante e abrasador,
em arco ampliado pela refração atmosférica, bem de frente
para as moradas dos Atlantes. Os raios alaranjados da íria
dispersam-se nas alturas desnubladas e não tangenciam o
cândido tapete nubífero, esparramado abaixo feito um lago
desde a beira do altiplano das três casas até as
colinas distantes, berço do astro luzidio.

O cobertor nebuloso não vagueia por cima do panorama, elevado no céu: estende-se exatamente ao nível do chão recoberto de pedrisco e esconde o relvedo de longas folhas lineares verde-escuras nas saias do platô, rampas de quarenta e cinco graus.