Finalmente, Gia e Louriage defrontam-se com a segunda porta;
maior, comparada à primeira; independentemente de ser interna
ao castelo. Eleva-se às alturas em arco ogival, semelhante ao
gótico tridéltico, e é composta de material desconhecido, similar
ao frátax. As duas amigas aproximam-se respeitosamente da peça.

- Lú!!! A porta é feita de bolinhas de areia, frataxiadas pelas
lagartas do ritmo! - sopra Gia, deslumbrada, ao ouvido de Louriage.

- Meu Deus!!! Sendo assim, mesmo com mil lagartas, deve
ter levado um milhão de anos para ser construída, Giza!

- É! Em todo caso, não fale mais nada assim tão alto, Lú! O
guarda vai perceber nosso entusiasmo, e o preço aumenta! - alerta
a kena, segredando dentre seus cabelos, cabelos doutra adentro.

Enquanto as beldades entrecochicham, o lampardo puxa
um cordão; e, sem rangidos, a porta se abre em duas, de par em par.

- Eis o salão de refeições. Queiram entrar, por fineza...
Acompanhem Tagor.

Gia e Louriage ingressam, plantígradas, na sala imensa. Não
há abóbada, exceto o céu escancarado, onde os sóis distantes são
amarelos, tingidos pela atmosfera dourada contra o infinito negro.

- Aqui, em vez de tochas, há luz aperfeiçoada, Giza! E, pelo
jeito, de todos os tipos encontráveis na Galáxia! - comenta Louriage
a meia voz, para contentar inteira a kena.

- Sim! Mesmo claras como o cromat, não ofuscam o iriar das
estrelas! Como são geosas! Uma aquarela de luzes! - mussita Gia,
parte em teruzês, parte em liso português, só deslizando os pezinhos
descalços na laje morna do salão. Inda aquecida à noite pelo dia, a
rocha memora os meigos raios vermelhos de Alfa Telariae. Satisfeita,
a kena acrescenta: - Aqui o chão é mais quente! Estava geliando os
pés nas salas cobertas! - e Louriage concorda:

- Eu também! Dormimos de touca, ao virmos descalças!

- A mesa!!! - interrompe Gia, numa exclamação mal contida,
sem ritmo para aprender brasileirismos e rir de graças. Por felicidade,
bem nesse estato, o guarda deixa cair com ruído um molho de
chaves estranhas e não escuta as visitantes; atencioso, volta-se de
frente para ambas, curva-se e apanha o objeto. Gia e Louriage nada
se entredizem, como se a pedra da mesa as entrevasse.

No centro da sala, com nove trezêmbilhos de comprimento
(passa o de duas turbonaves), largura de três trezêmbilhos e apenas
setenta centitrezêmbilhos de altura projetados para fora do piso, um
monólito absolutamente polido - sem riscos, sulcos ou desgaste -
encrava fundo no chão um dos vértices da seção triangular eqüilátera.

O mineral rebrilha, apresentando todos os matizes, do rosa
claro ao vinho tinto, em veios e raias muito diferentes dos marmóreos:
parecem fruto de turbulência alfiotérmica, gelificada num momento
- “num grão”, como diriam os umalfos. Por entre as estrias, filetes
finíssimos do mais puro soládio formam coleantes e harmoniosas
curvas entrelaçadas, só iriáveis de perto; observados à distância,
dão calor ao brilho desse congelamento ardente, formado no âmago
dos poderosos vulcões umalfos!

- Giza! É magnífica! Bem Você disse! Mesmo assim não a
imaginava tão bela! - sopra baixinho a tridéltica ao ouvido da kena,
e Gia arrepia-se com a cariciosa voz e o elogio, aplicável a si...

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